terça-feira, 29 de março de 2011

Desertos populosos




O pior deserto que pode existir: - Não é o deserto natural, ou aquele que é aterrador e belo (a um só tempo) - (Talvez, por ser parte em essência) - De uma paisagem extrema e avassaladora, muito mais remota que (nossa própria existência) como espécie hegemônica.

O pior deserto que existe: - (São os desertos da mente humana), aqueles que ao invés de grãos de areia (infindáveis), possuem em seu âmago “vazios infindáveis”, deixados: - Pelos precipícios da “moralidade e ética”, advindas da “sagrada família conservadora", escolas reprodutoras (de gado), e credos religiosos incautos.

Em outras palavras, vazios deixados: - Pelo individualismo transpassado, pelo ostracismo político de nossa gente "como a gente", pela leviandade de nossa sociedade civil, e pelos "mercadores da alma” que se alimentam de nossas utopias metafísicas.

Essas são algumas seqüelas que nos cooptam, persuadem, envenenam e exteriorizam: - Seqüelas que são constantemente suplantadas por algo parecido, que ao mesmo tempo reaproveita nossa "barbárie civilizada" a atualizando e a repassando: -Seqüelas que vez em sempre nos boicotam, agindo de maneira destrutiva, sendo mais um dos subprodutos de uma cultura de consumo enaltecida (e endossada) por um falso (discurso liberal) de um tal “processo civilizador ocidental".

O pior deserto, não é o deserto social que nos enlouquece pela solidão, ou o deserto essencial dos países emergentes de 3° mundo (àquele que pelo calor extremo, nos cozinha vivos, nos frita os miolos, nos causando falências múltiplas dos órgãos e desidratação)...

O pior de todos, é o deserto mental que segue nos amaldiçoando de maneira intrínseca ao tecido social, “civilizado e moderno” do séc XXI.

Um deserto bastante visto em cidades “ocidentais modernas” e populosas (que carrega em seu bojo uma superpopulação vazia e oca)... Um deserto que seria inconcebível não notarmos, se não fossem “os miseráveis agrupados”, vivendo em uma sombra escura “e confortável” deixada por um arranha-céu (também)“moderno e grandioso” como a civilização que o alicerçou: - (àquela da qual nós fazemos parte)...Para que uma classe (da qual não fazemos parte), habitar.

Seria impossível não notarmos tal deserto, se ele não estivesse cercado de poças de água fresca (e ao mesmo tempo contaminada), que (também a um só tempo) se encontram tanto nos vãos das calçadas, quanto nos chafarizes "monumentais”.

Monumentos estes, que por sua vez, nas grandes megalópoles, simbolizam um "estandarte errante" e triunfal, não tão errante e sem sentido (quanto se pensa) : - Está inserido no espaço geopolítico e na lógica dual...Como o exulto de nossa elite política e dinástica (sobre nós) os subservientes, sejamos da classe média, (ou não).

O deserto mental (e a falta de consciência de classe) da nossa também “classe” só que média (e de nossa elite), é a um só tempo: - Pandêmica, destrutiva e ociosa, pois gera passividade e acomodação, tal deserto mental é muito mais nefasto que qualquer deserto essêncial ou de fato, natural, como o Atacama ou o Mojave.

Ou mesmo, como “o deserto idílico” (e hollywodiano) - (vivido por Tom Hanks em - “O naufrago” – Deserto vivido por um único e "pobre sobrevivente" de um desastre aéreo e remoto, que estava isolado de toda e qualquer forma de estrutura (deserto material), de todos os seres humanos (deserto social), em uma ilha remota no pacífico (deserto essencial), e fez de uma bola de vôlei "oca e sem sonhos" (deserto mental) a sua melhor amiga.

As passividades, o ostracismo (em todas as estâncias), as “naturalidades não naturais”, as futilidades, o consumismo, o cafetismo barato e vulgar (exercido pela moda), o imperialismo cometido pelos outros, e o nosso “democracídio” - (Que é um extermínio da população menos abastada, consentido e exercido sob o auspício da lei), são: - Os cactos, os escaravelhos, os répteis peçonhentos e os escorpiões que habitam esse deserto (e todos eles nos assolam).

Um deserto que é (a um só tempo) populoso e vazio.
Ele também é visto em cada um de nós.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Imperialismo ianque – A hidra do novo milênio.



No início de sua história como potência hegemônica e interventora, os Estados Unidos foram formados por treze ex-colônias, que logo ao se libertarem da Inglaterra (em 1776), tiveram a necessidade de se expandir, divididos em meio a dois projetos estruturais distintos: Para o Sul, seria interessante economicamente para as oligarquias locais, a manutenção do grande latifúndio algodoeiro, - (respaldado na monocultura agro-exportadora e no livre-cambismo), a continuação do trabalho escravagista, assim como continuação do tráfico (interprovincial) negreiro.

Os estados do Sul pretendiam manter as relações comerciais com os Ingleses, - (se comportando como uma potência de gêneros primários, totalmente agro-exportadora) – bastante semelhante ao Brasil (no período Cafeeiro).- Em contraposição a esse modelo, havia o norte que defendia e impunha medidas como: A abolição da escravidão - (Pelo fato dos escravos não serem um eventual mercado consumidor, como seria a mão de obra assalariada)- , a adoção de tarifas protecionistas alfandegárias, a propagação de ideologias "iluministas de cunho liberal", (oriundas da França revolucionária - 1789), e a implantação de uma república federativa e autônoma.

Em meio a este processo de ruptura com os moldes coloniais - (ainda vigentes em grande parte dos EUA independente) - O que parecia ser um “avanço”, não pudera ser considerado totalmente “primavera”, pois desenvolveu-se um nacionalismo exacerbado que transcendeu literalmente as barreiras do preconceito “racial”, ódio e ganância imperialista, como vistos na anexação do Texas (em 1840 - 1848), do “Oeste selvagem”(1845), na anexação dos estados do Sul -(engendrados na ótica liberal)- Que se daria através da Guerra de Secessão (1861 - 1865), na abertura dos portos do Japão em - 1853, na anexação ou "compra" da Louisiana, na anexação da Flórida, no embargo à Cuba, e em meio às guerras por petróleo do séc XXI, no Oriente Médio.

Assim se deu o início do imperialismo embrionário Ianque, uma iniciativa alimentada por forte violência, xenofobia e exacerbado nacionalismo, justaposto a uma fé irracional em uma “predestinação divina”, posta em prática primeiramente pela Doutrina Monroe (1823) – (Doutrina que se opunha a intervenção européia na América) - , e em segundo plano pelo Destino Manifesto - (1840) – (Doutrina que prega a crença, de que os estadunidenses caucasianos de credos protestantes, teriam sido eleitos por deus para intervir e guiar todas as nações do mundo).

Antes da Guerra de Secessão (1861-65), os Ianques “descobriram” jazidas Ouro na Califórnia incentivando o povoamento pioneiro do Oeste, a implantação de ferrovias, o emprego de mão de obra assalariada - (proveniente da china, incessantemente explorada) -, e o genocídio dos “incivilizados Pele-vermelhas” pelos regimentos de cavalaria - (casacas azuis) .

Em meio a este processo expansionista, os setores dominantes e industriais ainda anexaram o Texas em (1848) e desferiram um violento ataque -(seguidos do nascimento de um sentimento patriótico, alimentado pelo preconceito, xenofobia e aversão) - observado até hoje por grupos da “extrema direita sectária”, que em um contexto atual, transpassa antipatia desferida com “fervor” em direção aos moradores de origem Latina e aos Negros do "Bronx" ou de outros estados.

Seitas como a Ku-Klux-Klan são os exemplos mais conhecidos, caso similar acontece com "Latinos" e Hispânicos, que sofrem perseguições, por grupos Neo-nazistas.

Falar deste sentimento que se mantém vivo até os dias atuais, significa falar das raízes mais profundas e mais remotas que remontam a história das desigualdades norte-americanas, (e em segundo plano) - a história das nossas desigualdades - Não somente as que vitimizam os latino-americanos que tentam atravessar o deserto do Novo-México em busca de melhores condições de vida, ou os negros norte-americanos que desde as épocas coloniais até hoje, são perseguidos, segregados, assumindo papel secundário no plano de fundo “montado” como uma esquema nefasto pelo sistema capitalista.
Significa criarmos consciência de classe, nos mantendo ativos pela conquista de direitos que foram tolídos por desigualdades históricas, amenizadas por uma democracia amputada em prol do Capital, e da perpetuação das desigualdades.

Os Eua e sua política imperialista de “Boa-vizinhança” ainda conceberam a importância de uma nova -(e útil) - saída para o Mar (saída para o Oceano Pacífico) que abriria novas fronteiras comerciais com o oriente, ao exemplo das Filipinas e do porto do Japão (Aberto à Bala, pelo comandante Perry - em 1853) cobiçando com isso, cada vez mais o expansionismo “travestido de genocídio”.

O comércio e a indústria estavam crescendo e florescendo rapidamente nas ex-colônias do norte, independentes, com grande autonomia e sede de sangue, sobre o estandarte de um capitalismo florescente e promissor, que iria se consolidar como sistema vigente nos séculos subsequentes.

O sucesso da expansão Norte Américana -(que se deu de dentro para fora) -, não se deu graças “as ideologias liberais e iluminadas que rondavam as ex-colônias em forma de Spectro”, mas talvez graças a hostilidade levada como “baluarte civilizatório” necessário a humanidade, por parte dos setores industriais hegemônicos, imbuídos de etnocentrismo, ódio, ganância e preconceito, mas também, camuflados e amparados por idéias iluministas e liberais escamoteadas por doutrinas incautas e por “sabotadores do bom senso”, como idealizadores da Doutrina Monroe, e do Destino Manifesto.
O processo de Expansão em germe que ocorrera no Norte, se deu coma uma “nova resposta” a um fajuto projeto colonial - (falido) -, inglês, interpelado por processos de separação e emancipação contemporâneos a ele próprio, que de forma dialética se deram na segunda metade do XVIII, e em início e meados do XIX.

A Hidra nos remete a mitologia grega, como sendo uma besta sanguinária, que quando perde uma cabeça, gera o dobro de cabeças igualmente aterrorizantes no lugar da decapitada, não percebo analogia melhor para descrever os EUA em sua fase mais atroz, que nos remete à "barbárie civilizada" gerada pelo Capital e seu imperialismo como sendo: “perolas negras” geradas pela dupla revolução européia e por suas concepções, as mesmas que levaram os franceses a guilhotinarem o Rei (amputando um mal), pôde ser usada em detrimento das maiorias pobres na edificação de um novo algoz, um mal que amenizou as mazelas da opressão servil, agora exterioriza, aliena e explora globalizando seu efeito em prol das "democracias amputadas e neoliberais" subservientes ao Capital.

Remunerando a mão de obra tornamos a exploração aceitável?, Um "tripulium" em detrimento da erudição e da liberdade é a única saída aceitavel?, Será mesmo, que em termos éticos e morais evoluímos?, Seria mais humano glorificar os sobretrabalhos e a mais-valía, que pagar a corvéia, a talha o dízimo?, Ou seria (tão funesto quanto, ser vassalo de um Lord-sangue azul, do que um assalariado submisso a um burguês que detem o modo de produção e parte total do lucro?) -(Os sécs XIX - XXI possuem a chave para essa questão) - O que é pior? O capitalismo e a exploração do tempo perdido, e do trabalho morto...Ou morrer trabalhando na terra, sem a noção do tempo perdido?...Podemos considerá-lo um avanço, uma etapa, mas nunca o fim...Se o fizermos, também será o nosso.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Bem-vindos ao L'Autre.

Criei o "L'Autre" movido pela “crença” de “que todo ser humano possui curiosidades em solucionar questões filosóficas, políticas, econômicas, científicas, sociais e até triviais", que estão engendradas em nosso dia-dia “sem nos darmos conta”, pois imaginamos que estas estejam longe de nossas vivências corriqueiras ou “em um outro sistema solar.”
Durante meus anos como universitário, fui tremendamente influenciado por duas vertentes filosóficas, que em certo período, tenderam a se digladiar por intermédio de ideologias antitéticas, uma delas foi: o Humanismo e a outra, o Marxismo.
Procurei durante um longo tempo entender como o individualismo transpassado nas sociedades pré-modernas do “Trecentro italiano” perdurava de maneira “tão voraz” nos tempos atuais (sob um novo estandarte), que possuía em seu âmago (em tempos remotos) o rompimento holístico com o medievo, o aparecimento de uma nova classe hegemônica “antes sem importância”: (a Burguesia), e uma nova ótica laica e mercantil, que se mantivera em ascensão de meados do “XIII até o séc XXI” – A mesma classe que edificaria a égide do capitalismo industrial-liberal.
Hoje acho bastante forçoso tal paralelo traçado em meus tempos de estudante, mas na época era algo comum, -(como também era comum, para um universitário de história ser anacrônico no 4° período, não tendo nenhum rigor acadêmico ao fazer tais “associações”) -, em minha ótica universitária, algumas categorias consideradas “humanísticas” serviam no séc XXI de resguardo às políticas neoliberais, que nos açoitam, alienam e externam por meio de medidas entreguistas e de esvaziamento...E as que valorizavam o homem e a ciência, caem em ostracismo nos engessando.
Após notar os pontos positivos e os funestos de tal corrente filosófica humanística, pensei: - “Seria eu um hibrido? – Teria eu, que consolidar um pensamento que valorize as faculdades humanas, as artes, e a ciência, ao senso crítico acerca das super-estruturas, a luta de classes, do conceito de hegemonia, mantendo acesa centelha revolucionária da constante mudança, cedidas pelo Materialismo Histórico, (Marxismo)?”, Teria eu que riscar o individualismo, a competição, a meritocracia e a compactuação com os exércitos de reserva, de minha vida?...Para o bem dos homens, para a cooperação destes, e para desenvolvermos a “fraternidade cidadã”, creio que sim.
A partir dos últimos meses como universitário, notei que a discussão de assuntos como estes possuem entendimentos variados e polêmicos, se arrolando dialeticamente e abarcando a realidade dos homens, os mesmos que transformam a natureza, criam os meios de produção, o administram se revoltam, e mudam com isso o seu habitat e as relações de poder em suas infra-estruturas.
  A materialização dos fracassos sociais era a peça chave para a boa compreensão da sociedade, era o que levava os homens a se revoltarem, buscando respostas em diversos matizes, se tornando subversivos certas vezes (ou não). O "ou não" sempre me incomodou, pois até mesmo o idealismo racionalista ou os de matrizes mais românticas (oriundas do Platonismo), possuíam certo charme "L'avan-garde" de ruptura holística com o antigo, algumas pró-liberais,  ganhando espaço na Europa, durante as "Eras moderna e contemporânea" - (as correntes materialistas, empiristas e pragmáticas em suma, se caracterizam por serem contraposições "em parte" dos diversos tipos de idealismos racionalistas, pois valorizam a Paxis efetivamente).
 Em muitos casos, a maioria dos conceitos considerados por alguns como “Erudição sem fundamento” ou “simples sandice” passavam a fazer sentido histório-social em minha vida, sendo  notados por todos os lados como “milho em um milharal”, como uma rosa vermelha nascendo “no meio do asfalto” - (após nos relacionarmos no papel de blogueiro iniciante, e leitor) -  espero estabelecer um link, em que as cosmo visões oriundas da ciência, e da vã filosofia com o Dida-dia de cada um. Espero que com isso as concepções de mundo, não estejam tão distantes das questões triviais da vida cotidiana, e que pelo contrário, possamos notar que é algo intrínseco, comum e freqüente (Dialético), indissociável e insolúvel, bem mais do que podemos imaginar.
O lúdico e o conhecimento histórico e filosófico, andam de mãos dadas, dialeticamente, a exemplo disso, podemos citar correntes como o Eudemonismo, que considera que a felicidade é o objetivo da vida em sociedade... Muitos filósofos de  concepções filosóficas distintas, consideravam o Eudemonismo como uma das premissas ou “notas de rodapé” da “sociedade perfeita”, a exemplo de nada menos que: Aristóteles, Epícuro, Montaigne, Diderot e Spinoza entre outros.
A felicidade e a cooperação são os alicerces para a construção de uma humanidade renovada, de uma sociedade em constante processo de transformação evolutiva, como uma utopia em “um tempo sem utopias”, a história deve relacionar-se com acontecimentos do nosso cotidiano, materializados pela sociedade que domina a política, as artes, a filosofia, a ciência, e a música.
 O que para muitos não passam de "mais um episódio na novela da vida", de mais um dia comum, pode estar repleto de concepções filosóficas da vida, e de novos modos de se vivê-la, contemplar esse processo, pode ser o início do movimento de mudança, revolver nossas idéias e colocá-las em prática, nos consolidará como sujeitos-agentes de nossa própria história e destino, derrubando a hegemonia de “lobos incautos” e criando a nossa.