segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Em algum lugar, em um tempo remoto, nesse mesmo dia.




No crescente fértil do rei Nabucodonosor II, num solstício de verão da Era do Bronze.
Babilônios cortavam pinheiros com ferramentas rudimentares, como fazem os cristãos com ferramentas não tão rudimentares, em dois mil e onze.

As Pináceas eram enfeitadas com cruzes em formatos de “T” e com estatuetas antropozoomorfizadas, em homenagem às suas divindades ádvenas, porém aladas.
Ao centro de suas salas, assumiam uma posição de destaque, em cerimônias pujantes eram meticulosamente ornadas.

Os cômodos nos quais incidiam as cerimônias: eram alicerçados por tijolos de adobe e palha, engenharia milenar e estrangeira, com ausência de blocos de pedra e de vigas de metal.
Porém, erigidos com suor, sangue e açoites, por braços servis e escravos, num modo de produção asiático de regime despótico e tirânico, com complexa estratificação social.

Que consolidou-se nesta época -pouco versada por seus escritos serem em idioma acadiano e de formato cuneiforme-, pela prática incessante duma disporá díspar.
Que se dava em apresamentos, que iam de Jerusalém ao Turcomenistão chegando até os confins do Qatar...

Os patesis por toda a mesopotâmia, enfeitavam com seus ídolos animados os seus Zigurates divinos (e feitos de barro).
“Zigurates celestiais” os quais, somente os sumo-sacerdotes, possuíam acesso ao seu ápice, onde se encentravam as Pinales exóticas advindas de um clima ameno (espólios das invasões empreendidas pelos déspotas ao Cáucaso).

As coníferas ao serem extraídas de seus locais de origem, deveriam estar repletas de pinhas para que -em uma região onde a natalidade era altíssima-, simbolizasse a fertilidade, os idolos animalescos de barro aos seus pés estariam munidos de oferendas pérfidas, exacerbadas e alimentícias, que apodreciam numas horas em um ambiente insalubre e pestilento.
Contagiando o povo com seu êxtase cerimonial, a massa era totalmente embaida pelo ritual estúrdio, e, acometida por malária, tifo e cólera num mesmo intervalo de tempo.

Camuflados por detrás das tradições transcendentais improfícuas...
Os Reverendos de Marduk sussurravam suas preces titubeantes envolta do altar de “sacrifícios quadrúpedes”, inoculando substancias psicotrópicas.

Imolando tetrápodes, córneos e tributados, oriundos de rebanhos amanhados às margens do Eufrates, por populações autóctones e pastoris.
Com um punhal de bronze, afiado, o clero rasgava a traqueia do animal de casco, aos pés da árvore sem raiz.

O ancião opulento e abastado, fazia então as libações inerentes ao sinal da cruz sob a égide do “T”, em homenagem ao deus aniversariante e bajulado.
Honrando com sangue bestial o nascimento de Tamuz, que em 25 de dezembro, trouxe aos pagãos de Ur, Nínive, Caldeia e Uruk, seu “resguardo”.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O materialismo é um humanismo.



Acredito que o materialismo seja um humanismo. Não somente por este libertar-nos da servidão terrena -sob a égide da subversão contra as elites parasitárias-, mas também, por este nos libertar do medo transcendente, torpe e pós-mundano (em apodrecer num calvário de enxofre e salitre, num inferno mefistofélico.

O materialismo é um humanismo, por nos emancipar das crenças em divindades antropomórficas, sempre coléricas! É um humanismo, por nos alforriar de uma eternidade falseada e metafísica, inculcada pelo clero , que engendra o apatismo societário e a alienação .

O materialismo concebe que o ser humano é um animal racional dotado de epistemologia e que utiliza esta última para transformar concretamente sua realidade material e social, erigindo sua concretude tanto cultural, quanto estrutural.

Ele próprio (o homem) é subproduto desta realidade material que concebe enquanto filosofia ontológica. Enquanto ser, é organicamente (e biologicamente) um arranjo molecular, organizado e sistêmico que resulta em matéria viva, num ser concreto, (num organismo), subproduto de bilhões de anos de evolução, um aglomerado de átomos, -sem alma-, sob auspício das leis físicas e das ligações químicas -em sua organização de ser vivo.

Todo ser vivo está remetido à matéria e à cosmogônia -à sua origem como ser orgânico e a do meio em que habita-, ao "grande bang", e à ele retornaremos, pois somos a façanha de um evento cósmico, que não somente erigiu nosso sistema solar, como também a matéria viva que o rege, e que, (sob a forma de ser cognoscitivo) redigiu esse texto. Em suma, somos feitos de poeira estelar, e ao universo voltaremos sob a forma de átomos.

Este conceito -o “materialismo”-, sofre correções e se transforma em novas sínteses há cada século, há cada era, foi Sócrates o primeiro a atrelar os pensamentos Eleatas como os de Heráclito e de Parmênides -(mudança perpétua e condenação ao Imobilismo, respectivamente)-, aos pensamentos dos Pluralistas, como os de Leucipo (um atomista) e associá-los, por conseguinte, à maiêutica socrática,- que além de humanista, foi uma forma primitiva de dialética “parteira das idéias”, através do embate entre teses a fim de desvendar a verdade, a virtude e a ética, que estaria -segundo Sócrates-, codificada na alma e imanente ao mundo das idéias-, ainda imbuído de idéias metafísica Sócrates lançou os dados da dialética e do materialismo modernos.

Aristóteles foi o primeiro a analisar a matéria sob seu aspecto frio, bruto e existencial na ontologia do ser humano -(e a corrigir algumas deturpações na maiêutica Socrática, perpetradas pelos geômetras e por Platão).

Porem, Aristóteles -com todo o seu mérito-, atrelou o saber à virtude transcendente do “Ato Puro” (Deus), atrelou a razão ao espanto (pathos), o cognoscitivo do ser humano à idéia de “forma” ou, a “Alma-racional”, imanente à “substância” ou o homem (o ser concreto).

A matéria desprovida de forma (alma) e de “essência” (objetivo), para Aristóteles, era a matéria bruta, prima, àquela que servia apenas ao trabalho humano, a essência por sua vez, seria objetivação do ser, enquanto a forma, a alma (que poderia ser Racional, Nutritiva, e Sensorial) do ser concreto, que só poderia existir “imanente as almas supracitadas”, em suma, a matéria para se tornar substância, para Aristóteles, necessitava da forma(alma), da essência (Objetivação), para só então existir.

Aristóteles aperfeiçoou o conceito de matéria advindo dos pré-socraticos e lançado por terra, por Sócrates e por Platão , assim como Marx no século XIX, aperfeiçoou magnificamente o conceito de materialismo (advindo de Feuerbach), que aprioristicamente, sem a intervenção deste primeiro (Marx), se encontrava deslocado da realidade societária.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Encruzilhada Existencial




A razão é o reproche do homem à um entendimento conspícuo,

A condenação natural ao saber, oriunda duma consciência de símio;

O sopro metafísico num boneco de barro que abnegou sua essência-animal...

O triunfo de uma espécie de Sapiens sobre a outra de Neanderthal.



Dum mastigar de raízes cruas, ao gosto do sangue com odor de carvão...

Ao banquete ecumênico duma ceia, regado à vinho e pão.

Dos rebanhos de gado, às plantações de um “crescente fértil de trigo”.

O assassínio do pastor pelo agricultor na gênese de um mito.



Os traços na savana deixados por um ser que pela primeira vez contemplou...

A existência dum “tele-encéfalo de bípede” que das pedras ao metal forjou.

A negação dos pelos, da agilidade de bicho, de um andar quadrúpede e arquejado..

Ao som consonante de fala, em detrimento do ruído rufiante de urro desengonçado.



A passagem dum nômade, nu e sem acanho...

Ao organismo engravatado das sociedades de ganho.

Do polegar fabril do fogo, da lâmina e da roda...

Ao movimento de pinça que engatilha os calibres e pressiona tesouras numa poda.



O rastejar de um vermicular insólito “na encruzilhada especicista de um coma”.

A sopa da vida, que da seleção-natural purgou mutações num genoma..

Passando de natural à artificial, dum fator biológico à um fator cultural...

Que edificou aclarações comtianas, sem pé nem cabeça, de raiz amoral.



(Felipe Lustosa)