terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Encruzilhada Existencial
A razão é o reproche do homem à um entendimento conspícuo,
A condenação natural ao saber, oriunda duma consciência de símio;
O sopro metafísico num boneco de barro que abnegou sua essência-animal...
O triunfo de uma espécie de Sapiens sobre a outra de Neanderthal.
Dum mastigar de raízes cruas, ao gosto do sangue com odor de carvão...
Ao banquete ecumênico duma ceia, regado à vinho e pão.
Dos rebanhos de gado, às plantações de um “crescente fértil de trigo”.
O assassínio do pastor pelo agricultor na gênese de um mito.
Os traços na savana deixados por um ser que pela primeira vez contemplou...
A existência dum “tele-encéfalo de bípede” que das pedras ao metal forjou.
A negação dos pelos, da agilidade de bicho, de um andar quadrúpede e arquejado..
Ao som consonante de fala, em detrimento do ruído rufiante de urro desengonçado.
A passagem dum nômade, nu e sem acanho...
Ao organismo engravatado das sociedades de ganho.
Do polegar fabril do fogo, da lâmina e da roda...
Ao movimento de pinça que engatilha os calibres e pressiona tesouras numa poda.
O rastejar de um vermicular insólito “na encruzilhada especicista de um coma”.
A sopa da vida, que da seleção-natural purgou mutações num genoma..
Passando de natural à artificial, dum fator biológico à um fator cultural...
Que edificou aclarações comtianas, sem pé nem cabeça, de raiz amoral.
(Felipe Lustosa)
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